NÃO CHORE O TÍTULO

Leite Derramado não adianta chorar: melhor ler o novo bom romance do compositor Chico Buarque.


[Leite derramado. Capa. Reprodução]

“Há um escritor novo de que gosto muito: o João Paulo Cuenca”. É mais ou menos isso o que disse Chico Buarque sobre o autor de Corpo Presente e que este usou na contracapa de O Dia Mastroianni – infelizmente, em viagem a trabalho, estou sem meu exemplar em mãos para checar se a frase com que abro esta coluna está certinha. Bom, mas ao menos seu sentido está e é o que nos basta.

Há ecos de Cuenca em Leite Derramado [Cia. das Letras, 2009, 195 páginas, R$ 36,00 em média]: nomes de personagens se repetem – na estreia do carioca mais jovem, todos os homens se chamavam Alberto e Carmen era o nome de todas as mulheres – e a trama tem fôlego: é daqueles livros que você só larga ao chegar à última página – como a literatura de Cuenca. Coincidência? Ou Chico se assume ainda mais fã – e influenciado – pela literatura do rapaz?

O narrador da obra é muito velho e está em fase terminal, internado no leito de um hospital. Aristocrata, põe-se a narrar à filha, parentes que o visitam, enfermeiras, médicos – alguém está a escrever-lhe as memórias (?) –, de forma propositalmente embaralhada, feitos de sua biografia, às vezes realizados por outros galhos de sua árvore genealógica. Se o compositor-escritor não supera Budapeste – na modesta opinião do colunista seu melhor livro, até aqui – chega bem próximo.

[Tribuna do Nordeste, Tribuna Cultural, ontem]

diga lá! não precisa concordar com o blogue. comentários grosseiros e/ou anônimos serão apagados